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quarta-feira, maio 24, 2006

Auto divagações filosóficas

Na minha vida
Tudo é o nada,
O nada da minha mente,
Que muito sente,
Em demasia, até,
Mas que não responde
De forma clara.

No meu dia-a-dia
Vivo o ontem,
Vivo o hoje,
Vivo o amanhã,
Mas nunca estou presente,
Pois a minha mente
Nunca está assente.

Banho-me de coragem
E de alguma surdez
Para compensar a longa viagem,
A longa caminhada
Para o vazio do meu querer,
A miragem do meu ser
Que sorri pelo prazer
Que é o mero viver
Na simplicidade,
Na humildade,
Na ingenuidade,
Na maioridade,
Na saudade
E na vaidade
Da minha idade.

Recebo e partilho,
Por vezes, monopolizo,
Mas nunca consciente
Porque estou ausente.

Vivo nas alturas,
Algures no Universo
Que é o Nirvana,
O Devir do meu peito,
Dos meus sentimentos,
Que oscilam ao sabor do vento,
O portador da inconstância,
Da transformação,
Da deformação,
Da deterioração do meu «eu».

Não sei, não sei, não,
Paralisarei ou evoluirei?
Questões sem resposta,
Sem solução
Por causa da podridão
Da «nobre» sociedade
Que nada tem de verdade.

A minha atenção não existe.
A minha tensão
Está na pressão
Que em mim persiste.
Desconcentração…
…e por que não?

Suicídio! Suicídio!
Está fora de questão!
Tal acto não merece minha consideração!
Não vale a pena dizer não
À vida e à família,
Aos amigos e aos seres vivos,
Racionais ou irracionais.

Beber, fumar e outras coisas mais
São actos cansativos.
Abstracção e meditação,
A melhor fuga à rotina.
Descanso psicológico,
Descanso fisiológico,
Mas nunca a abstinência
Ou a renúncia total,
O pior mal de todos os males.

A resposta está na mente
Que pára o tempo.
A imaginação e a desconcentração
Dominam a minha mente
Que nega uma lente
De aumento ou diminuição.

Olhar a direito,
Sempre para a frente,
Para um caminho estreito
E, ao mesmo tempo, imenso,
De uma vastidão tal
Que o risco de perda
Na escuridão de uma estrada
Sem bermas nem linhas
Não deixa parar
Nem sequer para planificar
Ou, pelo menos, tentar adivinhar
O futuro desconhecido e escuro,
Opaco, incensível, inseguro,
De todo imaterial e irreal.

Vivo na esperança de conseguir
Atingir a plena liberdade,
Não económica,
Não social,
Não política,
Mas sim espiritual.
Quero despir-me de preconceitos
E largar as minhas roupas
E sentir-me mais leve,
Completamente ao natural.

Conseguirei…?
Conseguirei-o alguma vez?
Não sei,
Porque se soubesse
Não perguntaria o que,
À partida, parece óbvio.
E tão óbvio não será,
Pois estou atolado
Num pequeno buraco,
Lamacento, espumoso,
Pegajoso e viscoso.
Haverá solução?
Haverá solução?

Não adianta ser forte,
Não necessito de ser brusco,
Apenas tenho de ser
Surdo, cego e mudo
Para poder abstrair-me,
Desligar-me, ausentar-me,
Olhar sem os olhos,
Para nada ver,
Mas sim visualizar,
Criar uma imagem,
Criar uma ilusão
Que recrie a realidade
E me faça compreender
A lógica do «não-ser».

Ai, a minha mente…
Eu sei que ela não mente
Porque é omnipresente
Tal como a ideia de Deus.

Sim, Deus! Sim, Deus! Deus!
A mente é que é Deus!
Não a minha mente,
Não apenas a minha mente,
Mas a mente de toda a gente
Que acredita e que sente
Uma força ardente
Plenamente consciente.

A mente é uma corrente,
Uma concorrente e uma sobrevivente
Ao Sol nascente
E ao Sol poente.
Por isso mesmo é diferente.
É uma força inocente.

Só a abstracção do «eu»
É que faz um homem ver.
Só a abstracção do «eu»
É que faz um homem escutar.
Só a abstracção do «eu»
É que faz um homem sentir.
Só a abstracção do «eu»
É que faz um homem viver.

É a elevação da mente,
A elevação para além das nuvens,
Ela é que torna o homem crente
Que aquilo que sente é a verdade,
A mais pura realidade do seu «eu»…
Do seu «eu»… do seu verdadeiro «eu».

Porque assim que fechamos os olhos,
Vemos tudo o que não queremos ver
E só assim podemos compreender
O que temos que fazer
Para que possamos renascer
E ver crescer, logo ao amanhecer,
A mente de uma criança,
A última esperança…

CO, 1997